RESIDÊNCIA ARTÍSTICA

Conheça os artistas selecionados para a I Residência Artística na KEF

Nos próximos 3 meses, serão desenvolvidos projetos de Dança, Teatro e Literatura

12 set 2024


O jamaicano-americano David J. Amado, a portuguesa Francisca Neves e o brasileiro Bruno Ribeiro estreiam o programa de Residência Artística lançado em agosto pela KEF. A primeira iniciativa teve como objetivo apoiar artistas no processo de escrita de projetos dos mais variados campos de criação.

O júri, composto pela diretora executiva e o Conselho da Fundação, avaliou cerca de 40 candidaturas de diversos países, como Portugal, Espanha, França. Estados Unidos e Brasil.

 


David J. Amado. @Rob White

 

David J. Amado, que situa o seu trabalho na intersecção entre as belas artes, a intelectualidade queer e o gueto, vai aproveitar a sua permanência na KEF para se dedicar à conclusão do guião do espetáculo "(Des)Protegidos", um coreopoema. A performance serve-se da poesia em Língua Portuguesa e da dança para explorar as experiências de cinco homens negros queer, que vão da brotheragem, dismorfia corporal, homofobia, do auto-ódio e racismo. “O projeto visa amplificar as vozes de um grupo marginalizado dentro da comunidade LGBTQ+, confrontando as expectativas sociais sobre a masculinidade negra. "(Des)Protegidos" é uma narrativa intensa que desafia estereótipos. É um espelho corajoso da realidade que exige reflexão e diálogo”, define Amado.

David J. Amado é coreógrafo, formado em Música na Columbia University, em Nova Iorque. É também pedagogo de dança clássica e cineasta com uma carreira que abrange três continentes. Começou como aprendiz na Companhia Alpha Omega Theatrical Dance (AOTD), sob a direção de Enrique Cruz de Jesus, em Nova Iorque. Desde então, dançou no Ballet des Amériques e Corpo Cidadão, em Minas Gerais, Brasil. Foi destacado pela revista Dance Teacher (EUA Ed. Junho de 2016) e cursou com o International Dance Council of UNESCO em pedagogia de dança clássica em associação com o Classical Dance Alliance (Nova York). Atualmente reside em Lisboa. É beneficiário do programa de apoio da Direção-Geral das Artes-DGARTES (2020). Em uma residência de escrita de roteiro com a Netflix e a Academia Portuguesa de Cinema está a desenvolver a sua primeira longa-metragem.

 


Francisca Neves. @Pedro Sacadura

 

Francisca Neves vai dedicar-se à pesquisa para os personagens de Arena, uma peça sobre o próprio ato de representar. A proposta é refletir sobre as formas e os processos pelos quais duas jovens mulheres (uma atriz e uma não atriz) darão voz e corpo às suas identidades ficcionais.

“Nas práticas performáticas contemporâneas, o uso dos chamados não atores tem gradualmente vindo a ganhar espaço. Arena questiona o lugar da representação e sua relação com a realidade, por meio de duas abordagens distintas - pessoal e profissional. Arena é um experimento.”, explica.

Francisca Neves é formada em artes performativas e cinema. A sua prática transdisciplinar centra-se nos campos da dança, do teatro e cinema. É formada pela Escola Superior de Teatro e Cinema, Balleteatro, ESMAE, P.A.R.T.S., Lee Strasberg (USA) e Sorbonne. Mais recentemente, participou nos filmes “A Sibila”, de Eduardo Brito; “Dias de Cama”, de Tatiana Ramos (prémio Indie Lisboa); “Midnight Glow”, de Pedro Harsnoury (Prémios Sophia) e “Rio Acima”, de Janais Reis (prémios da Academia de Cinema), entre outros. Em 2024 terminou o semestre no Actors Studio NY e foi selecionada para o laboratório teatral na Bienal de Teatro de Veneza com Tim Crouch. Acabu de Realizar o seu filme “Fertile Species” (em pós-produção) e ensaia a peça “Nós somos as netas de todas as bruxas que vocês não conseguiram queimar”.

 


Bruno Ribeiro. @Rodolpho de Barros.

 

Bruno Ribeiro pretende fazer um progresso significativo no seu romance de ficção histórica “A vida e o humor de João de Sá Panasco, o ex-escravo negro, bobo da corte e cavaleiro da Ordem de Santiago”.

A história gira em torno de um jovem negro nascido no Congo, que no início do século XVI vê a sua vida drasticamente transformada quando é capturado por traficantes de escravos, levado para Lisboa e vendido como propriedade ao rei D. João III de Portugal. Panasco rapidamente embarca em uma série de aventuras extraordinárias, inclusive ao lado do príncipe Luís, irmão do rei. Com personalidade carismática, inteligência aguçada e determinação inabalável, conquista respeito e um status social nunca imaginado para alguém em sua condição.

“Panasco sabe que sua verdadeira batalha é contra os preconceitos profundamente enraizados na sociedade. Uma batalha sem fim. Num tom satírico, crítico e cortante, o romance pretende olhar para o nosso passado para tentar compreender — ou quem sabe confundir ainda mais — o nosso presente”, provoca Bruno.

Bruno Ribeiro é escritor, tradutor e roteirista. Mestre em Escrita Criativa pela Universidad de Tres de Febrero, em Buenos Aires, é autor de, entre outros, "Como usar um pesadelo" (Caos e Letras, 2020), "Porco de Raça" (Darkside, 2021), "Era apenas um presente para o meu irmão" (Todavia, 2023), e o ainda inédito "O Dono e o Mal" (Alfaguara). Recebeu os prémios Brasil em Prosa, Machado DarkSide, Todavia de Não-ficção e foi finalista do Prémio Jabuti.

Além de oferecer um espaço para a criação, a KEF vai promover conversas sobre os processos criativos dos artistas e a apresentação das obras dos artistas para a comunidade local. Em breve, uma nova convocatória será anunciada, desta vez para artistas visuais.