RESIDÊNCIA ARTÍSTICA

Impacto humano sobre o solo é objeto de Residência Artística

Projeto de artista peruano envolve a criação de ilustrações digitais e manuais de antropossolos

26 dez - 16 jan 2025


Nascido e criado em Lima, Peru, Sebastian Alvarez é um artista interdisciplinar e cineasta que trabalha em projetos de desenvolvimento cultural e social. Atualmente vive em Monte Sirente, na Itália. Antes, e por 4 anos, viveu em uma vila medieval nos Abruzos, cuja capital, Áquila, foi o epicentro de um terremoto que devastou a cidade em 2009 e impactou toda a região.

“Ao facilitar o desenvolvimento comunitário entre moradores de longa data e recém-chegados e explorar o terreno montanhoso na região, notei a mistura onipresente de detritos do terremoto com o solo. A interação de camadas humanas e orgânicas me inspirou a estudar os antropossolos — solos profundamente alterados pela atividade humana, frequentemente encontrados em paisagens industriais, urbanas e de extração”, explica Alvarez.


Foto de vídeo de Sebastian Alvarez

O projeto que Alvarez apresentou e foi selecionado pelo programa da KEF de Residência Artística envolve a criação de ilustrações digitais e desenhadas manualmente desses solos alterados. Durante a sua residência, de 26 de dezembro de 2024 a 16 de janeiro de 2025, ele pretende fotografar, desenhar e traçar padrões inspirados em superfícies de muros, na geodiversidade da calçada portuguesa e nas marcas do terremoto de 1755.

Segundo Alvarez, essas observações servirão de base para ilustrações monocromáticas que combinarão estilos naturalistas do século XVI com designs arquitetônicos modernos. “As imagens criadas se assemelharão à "estratigrafia de ferro-velho", retratando o solo como um arquivo cosmopolita que reflete a composição multitemporal do nosso estrato — do tempo profundo ao superficial, iluminando assim nosso locus na biosfera e questionando nossas visões intoxicadas de progresso e destino”, completa.

O trabalho baseado em pesquisa de Alvarez se manifesta também em filmes, infográficos, palestras performáticas e composições sônicas. Ele é o produtor e coautor de A Machine to Live In (2020), um documentário científico sobre os processos imaginativos e materiais de construção de comunidades transcendentes e utópicas em Brasília, Brasil. Este filme estreou recentemente no True/False International Film Festival e no Visions du Réel Film Festival. Como performance ou curador, já teve trabalhos apresentados em instituições como o Yerba Buena Center for the Arts, Museum of Contemporary Art (Chicago), Hyde Park Art Center, Chicago Cultural Center, Whitney Biennial (NYC), Postgarage (Graz, Áustria), Townhouse Gallery (Cairo, Egito), o Festival Internacional de Cine de Barichara (Barichara, Colômbia), a École Nationale Supérieure d'Art Bourges (Bourges, França) e o Wiener Festwochen (Viena, Áustria). Atualmente, ele está produzindo um documentário híbrido nos Andes peruanos sobre o extrativismo e seus efeitos socioambientais.